terça-feira, 26 de maio de 2015

Pacto do Tempo

Era uma novidade para ela estar entre pessoas de uma área tão distante da sua. Quando adolescente, flertou por aquelas cercanias pelas mãos do voleibol, mas deixou tudo isso para trás e foi beber na fonte do jornalismo. Mas poucas coisas ali resgatavam memórias interessantes, de modo que tudo estava tão cinza, tudo tão frio...
De toda forma, vendo aquelas pessoas estranhas, com uma conversa que não tinha absolutamente nada de comum, ela viajava por entre seus muitos devaneios, anotava algumas ideias, pensava em outras, olhava para o relógio, chamando o tempo para se compadecer dela, numa cumplicidade sigilosa, e correr muito, batendo todos os recordes de velocidade jamais alcançados. E assim foi se acomodando em uma cadeira nada confortável, sentindo a friagem da sala caindo sobre sua pele macia e clara, como se estivesse num velório de um estranho, sem sentimento, sem dor, sem nada.
De longe, estando perdida em seus pensamentos, ouviu um ranger vindo da porta, que ela não teve nem coragem para olhar. Entrou de lá um cheiro de banho recém tomado, um calor que ela não conhecia e a um vulto que levou seus pensamentos para mais distante ainda, a levou para longe. Em poucos segundos se misturaram curiosidade, inquietude e uma vontade louca de rascunhar aquele sentimento, mas, ela, tímida, mesmo sem parecer, esperou que a figura entrasse de fato e tomasse conta do seu campo de visão.
Surgiu o inesperado. Seus olhos passearam pelos cabelos molhados daquela figura arrumadinha que não combinava com o ambiente, um andar bem disposto, de quem acorda cedo e sem preguiça, muito diferente de todos os seus amigos jornalistas, que ela bem conhecia, um porte firme, com uma pele banhada de sol que aqueceu todos os seus sentidos. Ela vibrou!
Foram uns poucos segundos do mais puro desejo de encher a todos com tantas perguntas quanto fosse possível, saber quem quem era aquele ser que tinha tomado seus sentidos, mesmo sem pedir licença, e a resgatou para a vida do momento, momento em que tudo se mostrava tão morto.
E, entre um suspirar e outro, ela se colocou de fato ereta na cadeira, e o tempo, ahhhh o tempo, aquele que tinha feito um pacto com ela, há alguns minutos, cumpriu a sua parte no trato, e voo pela pista, chegando antes de todo mundo, correndo o mais rápido que alguém já tinha visto.
Sem entender direito o que estava acontecendo, como se levada pela lambida que o mar dá na areia na maré alta, todos se foram, ela o perdeu de vista, sem saber quem era, como passou por ali sem deixar rastro, mas tendo registrado em sua memória cada detalhe daquela linda paisagem que a salvou do tédio.
Suspirou e seguiu... olhou para trás por umas duas vezes para tentar encontrar aquela paisagem novamente, mas nada tinha por lá, restou para ela olhar para a frente, e seguir olhando para a cena congelada no horizonte.

Bjs da Linda e até a próxima.

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